Para começar nosso estudo sobre transformadores, vamos definir o que é um transformador ideal.
Transformador ideal - é aquele em que não há energia acumulada no campo magnético (perdas no ferro são nulas),
não há indutância, o fio não apresenta resistência (perdas no cobre são nulas) e o coeficiente de acoplamento entre as bobinas é unitário.
No transformador ideal, a potência de entrada é igual à potência de saída.
O enrolamento ao qual aplicamos a fonte de tensão chamamos PRIMÁRIO e o enrolamento ao qual conectamos a carga chamamos SECUNDÁRIO.
Normalmente, representamos o número de espiras do primário por N1 e o número de espiras do
secundário por N2, conforme pode ser visto na Figura 91-01, onde representamos um transformador
em seu formato didático.
Figura 91-01
Observe que, na construção do transformador, não há contato direto entre o primário e o secundário. São circuitos completamente independentes.
Também não pode existir contato elétrico entre os fios que compõem os enrolamentos e o núcleo de ferro. Eles devem estar devidamente isolados entre si.
Por isso, os fios recebem uma cobertura de verniz isolante. E para o isolamento entre os fios do enrolamento e o núcleo, usa-se papelão ou plástico moldado.
Para o funcionamento do transformador devemos aplicar uma tensão senoidal ou cossenoidal ao primário,
V1, (atenção: os transformadores não funcionam com corrente contínua, ou CC) e esta tensão vai gerar um
fluxo variável no núcleo de ferro. Este fluxo variável, que percorre todo o núcleo de ferro, induzirá uma tensão, V2,
no enrolamento secundário, conforme a lei de Faraday ( Veja aqui!).
Conhecendo o valor de V1, a tensão V2 no secundário depende apenas da chamada relação
de transformação dada pela razão entre o número de espiras que compõem o primário e secundário, conforme a eq. 91-01,
abaixo. Então, se N1 > N2 dizemos que o transformador é
abaixador ou redutor de tensão. Caso contrário, N1 < N2,
então dizemos que o transformador é um elevador de tensão.
Na Figura 91-02 apresentamos o esquema de um transformador.
Figura 91-02
Onde as variáveis são:
V1 - Tensão elétrica aplicada ao primário do transformador
V2 - Tensão elétrica retirada no secundário do transformador
I1 - Corrente elétrica no primário do transformador
I2 - Corrente elétrica no secundário do transformador
N1 - Número de espiras do primário do transformador
N2 - Número de espiras do secundário do transformador
ZL - Carga ligada ao secundário
P1 - Potência entregue ao primário do transformador
P2 - Potência entregue à carga
Um importante parâmetro do transformador é a chamada relação de transformação, que é definida
como a relação entre N1 e N2 e representada pela letra "a", definida pela eq. 91-01:
eq. 91-01
Por outro lado, há uma relação direta entre as tensões no transformador e a relação de transformação,
dada por:
eq. 91-02
E como foi dito anteriormente, as potências de entrada e saída no transformador ideal são iguais, ou seja:
P1 = P2 = V1 I1 = V2 I2.
Isso permite escrever que:
eq. 91-03
Essas relações matemáticas são de fundamental importância para o entendimento do funcionamento de um transformador.
Observe que, combinando as eq 91-02 e eq 91-03, podemos escrever a eq. 91-03a da seguinte forma:
No estudo de transformadores podemos trabalhar com a chamada reflexão de impedâncias. Isto é, podemos refletir a
impedância do primário para o secundário e vice-versa. Essa escolha depende da conveniência de uma abordagem ou outra..
Vamos analisar como essas reflexões são feitas.
3.1. Reflexão do Secundário para o Primário
A impedância do secundário pode ser calculada como a razão entre a tensão e a corrente nesse lado do transformador.
Com base no circuito acima, podemos escrever que:
Zs = V2 / I2 = ZL
Mas pela eq. 91-03 sabemos que V1 = a V2 e
I1 = I2 / a. Assim, calculando a impedância que o circuito oferece ao primário, encontramos:
Zp = V1 / I1 = a V2 / (I2 / a) = a2 ZL
Ou seja, quando refletimos a impedância do secundário para o primário multiplicamos a impedância do secundário pelo quadrado da relação de transformação. Em resumo:
Assim como refletimos a impedância do secundário para o primário, podemos refletir a do primário para o secundário.
Da eq. 91-03, concluímos que I2 = a I1 e
também V2 = V1 / a. Portanto, ao calcular a impedância que o
circuito oferece ao secundário, encontramos:
Concluímos que quando refletimos a impedância do primário para o secundário, dividimos a impedância do primário
pelo quadrado da relação de transformação. Em resumo:
Observando a Figura 91-01, percebemos que os enrolamentos do transformador estão dispostos sobre um núcleo
de ferro-silício. Isto ocorre porque o ferro-silício possui uma alta permeabilidade magnética e gera um intenso
fluxo magnético através do núcleo que envolve os dois enrolamentos (primário e secundário) do transformador. Com isso, obtemos
uma forte interação entre os dois enrolamentos e podemos considerar um coeficiente de acoplamento unitário entre eles. Nesse caso,
a Lei de Faraday pode ser usada, conforme estudamos no capítulo 75
(veja aqui!), e a eq. 75-13 pode ser reescrita da seguinte forma:
eq. 91-06
Sabemos que em um transformador ideal, as resistências dos enrolamentos são iguais a zero. Neste caso, podemos dizer que a tensão
induzida é igual à tensão aplicada ao enrolamento, ou seja, E1 = V1. Normalmente, um transformador é alimentado
por uma tensão do tipo senoidal. Então podemos definir E1 = V1 = Vmax sen (ω t).
Baseando-nos nas definições acima e fazendo um processo algébrico na eq. 91-06, podemos escrever a eq. 91-07.
eq. 91-07
Como nosso interesse é calcular o fluxo magnético ,Φ, a partir da eq. 91-07 facilmente encontramos o valor do fluxo integrando essa equação e obtendo:
eq. 91-08
Uma outra forma de escrevermos o fluxo magnético é através da eq. 91-09, onde usamos o fato que
- cos x = sen (x - 90°). Então:
eq. 91-09
Onde Φm representa o fluxo magnético máximo e pode ser expresso pela
eq. 91-10. Cabe salientar que o fluxo magnético, conforme a eq. 91-09, está atrasado em 90°
em relação à tensão aplicada. Isso fica mais claro ao observarmos a Figura 91-03 abaixo.
eq. 91-10
Na eq. 91-10 usamos a conhecida relação ω = 2 πf. Note que o fluxo magnético é
diretamente proporcional à tensão aplicada e inversamente proporcional à frequência. Normalmente, pretendemos manter
o pico do fluxo constante para utilizar totalmente o circuito magnético. Isso significa que mudanças na tensão ou
frequência devem ser feitas para que a relação entre tensão e frequência
seja mantida. Assim, se duplicamos a tensão aplicada, então, para manter o fluxo constante, devemos duplicar a frequência
da tensão aplicada. Isso é o que mostra a Figura 91-03.
Figura 91-03
Muitas vezes, em problemas, conhecemos o valor do fluxo e queremos o valor da tensão induzida. Para isso,
basta trabalhar algebricamente a eq. 91-10, obtendo:
eq. 91-11
Em projetos de transformadores, é usual utilizar a tensão induzida no seu valor eficaz e não no seu valor
máximo ou de pico. Como aprendemos no capítulo 52, para transformar tensão máxima para tensão eficaz,
basta dividir o valor da tensão máxima por √2. Veja aqui!
Então o valor eficaz de V1 é dado pela eq.91-12.
eq. 91-12
De forma similar podemos encontrar o valor eficaz de V2, sendo dado pela eq.91-13.
eq. 91-13
Neste momento, é importante recordar o que foi estudado no Capítulo 73 , referente a Fluxo Magnético!, onde afirmamos que
quando temos a direção do campo densidade do fluxo magnético máximo, Bm,
na mesma direção do eixo da espira, é válida a eq. 75-11a,
mostrada abaixo. Esse é o caso no estudo de transformadores, pois a bobina (formada por várias espiras) envolve o núcleo e o fluxo
magnético é paralelo ao eixo da bobina, ou seja, θ = 0°.
No estudo de transformadores, é fundamental que o aluno sempre tenha em mente a afirmação abaixo.
"Um transformador não pode funcionar em D.C."
O motivo dessa afirmação é muito simples. Vamos nos referir à eq. 91-06, a qual explicita que para haver
tensão induzida, obrigatoriamente, devemos ter uma variação de fluxo magnético. E, como sabemos, uma tensão D.C.
não é capaz de gerar uma variação de fluxo magnético ao alimentar o enrolamento de um transformador. Como consequência, haverá
a produção de um campo magnético constante. Dessa forma, nenhuma FEM será induzida, tanto no primário quanto no secundário.
Além disso, caso uma tensão D.C. seja aplicada ao enrolamento primário do transformador, circulará uma alta corrente,
pois não há uma tensão induzida que possa reduzir a corrente que circula no transformador. Isso causará superaquecimento do enrolamento,
levando à queima do isolamento.